– O CORREIO JÁ PASSOU?
Esta era uma pergunta comum que as pessoas faziam lá pelos anos 60 nos bares, armazéns, etc., que ficavam às margens das rodovias que ligavam as cidades de Florianópolis e Jaraguá do Sul, principalmente tarde da noite, quando não havia mais linha de ônibus regular, e a última solução era pegar o “Correio”…
Mas afinal, como é que funcionava esta linha de ônibus conhecida por todos como o “Correio”?
Voltemos cinquenta anos no tempo…
1960, 61, 62, 63, o asfalto ainda não pavimentava as antigas estradas em nosso Estado. Eram todas de barro…
Foi então que a Auto Viação Catarinense, empresa de passageiros pioneira no sul do País, fez um convênio com o Correio para transportar as malas de correspondência da região do litoral e do norte do Estado, para agilizar a entrega do que se postava em Florianópolis, Itajaí e Blumenau com destino às demais regiões do Brasil, pelo sistema “via terrestre”, garantindo inclusive uma entrega mais segura.
É interessante lembrar que naqueles tempos você podia escolher: sua carta poderia seguir por via aérea ou via terrestre. Se fosse por avião custava mais caro e o envelope era diferenciado, em papel mais fino e especial, com tarja verde amarela. O texto também tinha que ser escrito em papel de carta especial, que era finíssimo e transparente, ou seja, o envelope devia pesar o mínimo possível, porque você pagava pelo peso.
Ao despachar via aérea o remetente ficava tranquilo, com a certeza de que o destinatário receberia a correspondência o mais rápido possível.
Já as cartas e encomendas por via terrestre custavam bem menos, em compensação demoravam mais para chegar ao destino.
A LINHA DO CORREIO
O Grupo JCA, que em 1995 assumiu o controle acionário da Auto Viação Catarinense, no histórico da empresa registra o seguinte:
“O transporte de encomendas também era feito pela Catarinense desde os primeiros tempos. Como não houvesse serviço oficial de correio, nem qualquer forma de prestação regular desse tipo de serviço, a empresa logo se destacou por entregar as encomendas sem danos, já que, até então, era muito comum que fossem extraviadas ou danificadas pelo caminho. Elas eram transportadas em carros exclusivos, e quando nasceu a empresa de Correios, a Catarinense foi sua parceira, em carros que transportavam encomendas na parte traseira e passageiros, na frente.”
Por falta de informações, não se sabe ao certo o horário em que partia de Florianópolis (devia ser pelas 20 h), mas era comum que o ônibus do “Correio” passasse por Itajaí lá pelas 21,30 horas; em Ilhota era pelas 22,00 horas que ele passava, depois seguia por Gaspar, Blumenau, Pomerode, até chegar , de madrugada, em Jaraguá do Sul, importante polo de redistribuição, via férrea, do norte catarinense.
De manhã o trem misto (carga e passageiros), que ligava São Francisco a Porto União, com conexões para Curitiba ao leste, São Paulo ao norte e Porto Alegre ao sul, se incumbia de levar as cartas do “Correio” para seus destinos.
A característica do ônibus da Auto Viação Catarinense que fazia esta linha era “sui generis”: chamava a atenção a carroceria especial, metade para passageiros, com 12 lugares, e metade (a de traz) fechada, para abrigar as malas postais.
A Rodoviária de Blumenau ainda se situava na Rua 7 de Setembro, esquina com a Rua Padre Jacobs, mas o “Correio” tinha como destino a agência do Correio no início da Alameda Rio Branco, em frente ao Cine Busch, onde descarregava as cartas e encomendas destinadas a Blumenau, e carregava as malas postais daqui para outros destinos. Depois seguia em frente, noite afora, levantando poeira… rumo à sinuosa Serra de Jaraguá.
Estas informações são baseadas em lembranças; por isto, e para ajudar na reconstituição da história, se alguém que também viveu estes fatos, e sabe de mais detalhes, por favor colabore, enviando suas memórias para este blog. Elas serão incorporadas ao texto na forma de adendos.
CURIOSIDADES
O motorista do ônibus do Correio pisava fundo… Se você, noite fechada, precisasse aquela condução (foi algumas vezes o meu caso), a recomendação dos ribeirinhos das estradas era firme:
– Te joga na frente do ônibus, senão ele não para!
E era verdade. Não sei se a instrução era para não parar no meio do trajeto, e somente nas agências do Correio, ou se era “pirraça” do motorista; mas ele fazia de tudo para não parar.
Algumas vezes eu estava em Ilhota, lá por volta de 1964, onde tínhamos arrendado o Cine São Luiz, e quando a sessão de cinema acabava, pouco antes das dez da noite, tínhamos que nos “jogar” em frente ao ônibus para que o motorista nos visse e parasse (50 metros a frente, tamanha era a velocidade com que ele vinha).
Segundo dados históricos da Auto Viação Catarinense, a linha do Correio Florianópolis-Jaraguá teve sua origem exclusivamente por causa da parceria da transportadora com o Correio, e não através de concessão do Estado, como seria normal.
Mas deu tão certo, que depois, mesmo com a extinção da linha do Correio, o trajeto continuou sendo atendido pela Catarinense, dando origem também à linha Florianópolis/Mafra, a qual persiste até hoje com vários horários e demanda satisfatória.
* Texto acima é da autoria do jornalista e escritor Carlos Braga Mueller publicado no blog do Adalberto Day.