Famílias Kannenberg
Há registros de várias famílias com o sobrenome Kannenberg que principalmente emigraram da Pomerânia para o Brasil, tanto para a região do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, quanto para outras localidades, como no estado do Rio Grande do Sul.
Até o momento atual, não é conhecido qualquer parentesco entre essas diversas famílias.
O embarque e nascimento de Ernst
No dia 24 de maio de 1873, a família KANNENBERG, oriunda da Pomerânia, mais precisamente de Neustettin (atual Szczecinek, na Polônia), embarcou no porto de Hamburgo, na Alemanha, a bordo do navio veleiro Phönix, de bandeira alemã da Louis Knorr & Co., sob o comando do Capitão Wehrmann. Seu destino era cruzar o Atlântico e desembarcar no porto de Itajahy em Santa Catarina, Brasil. A motivação para essa jornada estava nas perspectivas cada vez mais sombrias na Europa, levando-os a buscar melhores condições de desenvolvimento para seus descendentes na nova terra.
A família era composta por Johann Kannenberg (66 anos) e sua esposa Friedericke Backer (66 anos), seu filho Carl Kannenberg (37 anos) e a nora Caroline Wilhelmine Lassanske (37 anos). Além disso, viajavam com eles seus netos Emilie (17 anos), Carl(12 anos), Auguste (9 anos) e Friedrich (2 anos).
O que torna essa história ainda mais notável é que, em 14 de novembro do mesmo ano, nasceu Ernst Kannenberg. Isso significa que Ernst veio ao mundo apenas 5 meses e 22 dias após a partida da Alemanha, o que indica que sua mãe, Caroline Wilhelmine Lassanke, estava grávida durante a viagem. Levando em consideração que a travessia do Atlântico em barco a vela costumava levar de cinco a oito semanas, mas poderia se estender devido a condições climáticas desfavoráveis, é razoável concluir que Ernst nasceu pouco tempo após a chegada de sua família ao Brasil.
Lista de passageiros
Na lista de passageiros do veleiro Phönix, que foi registrada em Hamburgo no dia 23 de maio de 1873, constam os nomes de 215 pessoas que embarcaram no porto de Hamburgo.
Dentre esse total de passageiros, 106 eram do sexo masculino e 109 do sexo feminino. Além disso, foi apurado que 139 passageiros eram adultos ou tinham mais de 10 anos de idade, 69 eram crianças com menos de 10 anos e 7 eram bebês com menos de 1 ano de idade.
É importante mencionar que ao final da lista, os registros de Emilie Dallmann (uma menina com menos de 10 anos de idade) e Wilhelm Radlaff (um bebê com menos de 1 ano de idade) foram cancelados. O motivo desse cancelamento, ou seja, o motivo pelo qual essas pessoas não embarcaram, não é conhecido.
Dos 215 passageiros, somente 7 deles permaneceram na colônia Itajahy. Todos os demais tiveram como destino final a colônia de Blumenau.
Aqueles que optaram por ficar na colônia Itajahy foram a família de Johann e Henriette Beilfuss, juntamente com seus filhos Wilhelmine, August e Albert, além de Henriette Scheutzow e Carl Hasse.
As listas de passageiros estão disponíveis no site do ancestry.com (acesso pago) e no familysearch.org.
Adiante segue a lista de embarque contendo a relação de nomes dos passageiros da família Kannenberg:
Na lista de embarque (imagem acima) constam o nome das seguintes famílias: Teske (Henriette, Wilhelmine e Albert), Ratzmann (Wilhelm, Augustine, Mathilde, Franz e Robert), Klitzke (Wilhelm, Johanne, Friedrich, Albert e Mathilde), Schneider (Carl, Auguste, Bertha, Auguste e Otto), Dallmann (Ferdinand e Wilhelmine), Teske (Albert, Johanne, Bertha e Emilie), Röpke (Heinrich, Caroline, Wilhelm, Emilie, Wilhelmine e Hulda), Schlup (Fritz, Ida, Ferdinand, Gustav, Wilhelm, Friedrich, Heinrich e Jacob), Komohl (Carl, Henriette, Auguste e Bertha), Radlaff (Friedrich e Albertine), Rusch (Daniel, Caroline, Ferdinand e Albert), Thoms (August, Albertine, Caroline, Albert, Wilhelm e Emilie), Kroll (Friedrich, Henriette, Auguste e Caroline), Kannenberg (Carl, Wilhelmine, Emilie, Carl, Auguste, Friedrich, Johann e Friedrike), Isberner (Albert, Ulrike, Carl, Auguste e Henriette) e Rausch (August, Wilhelmine, August e Ferdinand).
Além dos nomes de Johann F L Priebe, Friedrike Belz, Hans Dressel, Ulrike E. W. Grams e Friedrich Berndt.
A lista de embarque também poderá ser consultada no site do FamilySearch (é necessário registro como usuário. O registro é gratuito).
Os registros de embarque exibidos na imagem acima, são integrantes da folha 2. Adiante seguem os registros dos embarques (folhas 1, 3 e 4):
Na folha 1 constam os nomes das seguintes famílias: Beilfuss (Johann, Henriette, Wilhelmine, August e Albert), Züge (Friedrich, Friedrike, Hermann e Carl), Boeder (Albert Ferd, Friedrike, Emilie, Auguste e Bertha), Gaedke (Carl, Ernstine, August, Bertha e Hermann), Mathis (Johann, Johanna, Friedrich, Anna e Albert), Bläsing (Wilhelm, Auguste, Albert e Ottilie), Zenk (Johann e Auguste).
Além dos nomes de Henriette Scheutzow, Carl Hasse, August Kollath, Caroline Ponath e August Teske.
Na folha 4 constam os nomes das seguintes famílias: Kohns (Fritz e Friederike), Pagel (Friederike, Mathilde, Emilie e Albert), Klemz (Ludwig, Ernestine, Therese, Theodor, Albert e Carl), Bin (Theodor, Adeline e Mathilde), Raddatz (Johann, Wilhelmine, Hulda, Auguste e Bertha), Prochnow (Hermann, Mathilde, Albert, Hermann e August) e Anklam (Julius, Johanna, Bertha, August, Emilie, Therese e Auguste).
Além do nome de Johann Bublitz.
Carta de comunicação
Em uma carta manuscrita datada de 13 de agosto de 1873, escrita pelo Dr. Hermann Blumenau, fundador e administrador da Colônia São Paulo de Blumenau, endereçada a Pedro Affonso Ferreira, presidente da província, é comunicada a chegada de 308 imigrantes no total, vindos dos navios Phoenix e Gutenberg. O Dr. Blumenau também relata as ocorrências durante a viagem, incluindo mortes, doenças e queixas, e argumenta sobre a importância do estabelecimento da navegação a vapor no rio Itajahy.
Na carta, Hermann informa que no navio Phoenix foram embarcadas 208 pessoas com destino à Colônia Blumenau, das quais um ancião de 69 anos e uma criança faleceram durante a viagem. Além disso, duas pessoas se dirigiram para a Colônia Itajahy e três crianças nasceram durante a viagem, resultando em um total de 207 pessoas que chegaram ao seu destino.
Com base nos dados contidos na lista de embarque, é provável que o ancião de 69 anos que faleceu no trajeto seja Jacob Schlup, uma vez que o registro do mesmo indica a idade mencionada.
A carta também relata os problemas enfrentados com casos de sarampo e varíola a bordo do navio Gutenberg.
Considerando que as condições de viagem já eram complicadas, imagine como não seria com casos de sarampo e varíola!
Uma das crianças mencionadas na carta como nascida a bordo é Johann August Paul Radatz, filho de Johann Radatz e Wilhelmine Mischke, que nasceu em 18 de junho de 1873 no navio Phoenix. Fonte da informação: Arquivo de Blumenau (PDF pág. 22) e ainda com informações na árvore genealógica do FamilySearch.
Link da carta: repositorio.ufsc.br
Sobre o ano de 1873
O Brasil encontrava-se no período do Segundo Reinado, sob o governo de Dom Pedro II.
As condições de saúde naquela época eram precárias, com epidemias frequentes de doenças como febre amarela, cólera e varíola. A medicina ainda estava em estágios iniciais de desenvolvimento, com práticas muitas vezes rudimentares.
O país era predominantemente católico, com a Igreja Católica desempenhando um papel significativo na sociedade. Outras religiões também começavam a ter presença, especialmente devido à imigração de grupos religiosos diversos.
Em 31 de janeiro, nasceu Amalie Auguste Melitta Bentz, em Dresden na Alemanha, inventora do filtro de café em 1908.
Em 31 de julho, pela Lei Provincial 694, a Colônia Blumenau foi elevada à categoria de freguesia, com a denominação de São Paulo Apóstolo de Blumenau, subordinada ao Município do Santíssimo Sacramento de Itajaí.
Em 5 de outubro, foi fundada a “Associação Gymnastica Blumenau”.
Alberto Santos Dumont, pai da aviação, nasceu em 20 de julho.
O Grupo NETZSCH, que iniciou suas atividades em uma pequena oficina na Alemanha. Trouxe suas operações para o Brasil em 1973.
A Oktoberfest na Alemanha foi cancelada devido à epidemia de cólera.
Clima e condições de viagem
A família embarcou em Hamburgo, na Alemanha, no mês de maio. Nesta época do ano, a Alemanha está na primavera. Com temperaturas variando entre 5 a 20ºC.
Já a chegada prevista para entre os meses de junho até agosto se deu na época do inverno.
Quanto as condições de viagem, não temos informações. Mas podemos deduzir que não tenha sido nada agradável. Ainda mais que, Caroline Lassanske estava viajando grávida.
No navio, os emigrantes tinham que providenciar sua própria alimentação. Somente a água para beber lhes era fornecida. Em barcos que partiam de portos ingleses, de Antvérpia, Le Havre ou Roterdã, se praticava o auto provimento dos passageiros até 1855. As reservas de água, todavia, não permitiam uma boa higiene ou a lavagem da roupa, para isso tinha que ser usada a água do mar. Se a viagem se prolongava em consequência do mau tempo, os mantimentos tinham que ser racionados. Em decorrência da alimentação insuficiente e da roupa suja e infestada de piolhos instalavam-se facilmente toda sorte de doenças. Na maioria dos navios daquele tempo a ocorrência de óbitos era a regra.
Data de chegada
A data exata de chegada do navio veleiro ou dos imigrantes da família Kannenberg não é conhecida. No entanto, há indícios que sugerem uma possível data de chegada, como a informação contida na “carta de comunicação”, que menciona a chegada do navio veleiro Guttenberg.
De acordo com o registro da Lista de Imigrantes de Joinville, na página 179, o navio Guttenberg, um barco com 1035 toneladas, da empresa Louis Knorr & Co., sob o comando do Capitão Braren, partiu do porto de Hamburgo em 8 de maio de 1873 e chegou à colônia Dona Francisca em 12 de julho de 1873.
A própria carta foi escrita em 13 de agosto de 1873. Portanto, é razoável concluir que a chegada dos imigrantes ocorreu por volta de julho e antes do dia 13 de agosto de 1873.
Com o barco a vela a travessia do Atlântico durava, em regra, de cinco a sete semanas, mas podia estender-se por mais tempo em caso de tempo desfavorável.
Nascimento de Ernst Kannenberg
Há o registro de três nascimentos a bordo do veleiro, conforme a carta de comunicação do Dr. Blumenau, mas dessas crianças, temos a identificação de apenas uma delas.
De acordo com a lista do Arquivo Público de Blumenau, consta que Ernst teria nascido em 14 de novembro de 1873, na localidade de Cedro. Isso significa que ele já teria nascido em solo brasileiro.
Cláudio Koepsel, meu primo de terceiro grau, informou que seu bisavô, Adolf Kannenberg, filho de Ernst, comentava que seu pai havia nascido a bordo do navio.
Nota minha: Com base nas informações obtidas em documentos de registro, carta de comunicação do Dr. Blumenau, datas, tempo de viagem no navio e outras fontes, acredito que Ernst tenha, de fato, nascido já no Brasil após o desembarque.
Fontes: Arquivo de Blumenau (PDF página 48)
Relações familiares entre passageiros
A seguir, descrevo os parentescos entre as pessoas listadas no registro de embarque do navio Phoenix ou seus descendentes.
Auguste Emilie Albertine Raddatz é a mãe de Rosa Hafemann, que se casou com Carl Brandt (irmão de Ida Brandt, minha bisavó). É importante lembrar que Johann August Paul, irmão de Auguste, nasceu a bordo do veleiro durante a viagem.
IMPORTANTE: Existem outras relações familiares antes e depois da emigração, no entanto, estão sendo analisadas e serão descritas aqui em breve.